Maré recebe itinerância da Mostra Diálogos Ausentes, do Itaú Cultural, com foco na produção artística negra no Brasil

Com a proposta de discutir e romper o ciclo de invisibilidade comum à produção artística negra no Brasil, o Itaú Cultural em parceria com o Observatório de Favelas leva ao Rio de Janeiro a itinerância da Mostra Diálogos Ausentes, realizada na sede do instituto, em São Paulo, em dezembro do ano passado. Com curadoria de Rosana Paulino e Diane Lima, e projeto expográfico de Henrique Idoeta, gerente do Núcleo de Produção do Itaú Cultural, a exposição abre ao público no dia 30 de setembro (sábado), às 16h, no Galpão Bela Maré, e apresenta obras de 17 artistas negros brasileiros das artes visuais, cênicas e do audiovisual, entre individuais e coletivos.

A linha curatorial deriva de uma série de encontros com o mesmo nome realizados durante 2016 e 2017 no instituto, com o objetivo de analisar e dialogar entre público, artistas e especialistas a representação dos negros nos diversos segmentos artísticos e expressões culturais. O resultado exibido na mostra materializa a conexão destas três linguagens, tratando das questões raciais por meio de posicionamentos artísticos traduzidos em variados formatos.

Aline Motta, Yasmin Thayná, Dalton Paula, Gessica Justino, Eneida Sanches, André Novais e os grupos Coletivo Negras Autoras e Capulanas Cia. de Arte Negra são alguns dos artistas com obras expostas na mostra. A instalação composta de gravuras em metal, Transe Iluminado, de Eneida Sanches, aborda o conceito de transe como um fenômeno que, de caráter tanto religioso quanto social, auxilia a representação coletiva da cultura negra da Bahia.

O artista visual Dalton Paula é autor do registro da performance Unguento, uma intervenção realizada em 2015 na cidade de Lençóis, na Bahia, durante a mostra Osso Latino-americana de Performances Urbanas. Ainda entre as obras audiovisuais, há as exibições de curtas-metragens como Kbela, de Yasmin Thayná, Quintal, de André Novais, e Cores e Botas, de Juliana Vicente. As artes cênicas aparecem nas fotografias e vídeos, como é o caso de Exu – A Boca do Universo, espetáculo dirigido por Fernanda Júlia representado por imagens e elementos do cenário por meio de objetos cênicos.

Só no Rio

A itinerância da Mostra Diálogos Ausentes no Rio de Janeiro conta com obras de três artistas que não integraram a montagem em São Paulo: Eustáquio Neves, Gessica Justino e Heberth Sobral. Fotografias da série Estandarte, de Sobral, trazem uma releitura das obras de Jean- Baptiste Debret sobre os costumes de africanos escravizados no Rio de Janeiro utilizando peças de brinquedos. Do fotógrafo e videoartista Eustáquio Neves é apresentada a série A Boa Aparência, que pesquisa, a partir de textos periódicos e classificados de oferta de empregos, o hábito cotidiano de se julgar os negros pela aparência.

A produtora criativa Gessica Justino tem como inspiração para o seu trabalho Barbeiragem: desce o pente, corre a trilha os barbeiros e as relações que se desenvolvem nas barbearias. Uma ligação histórica que nos remete a várias conexões – desde os barbeiros sangradores e curandeiros de meados de 1800 aos de favelas e regiões periféricas do Brasil e do mundo na contemporaneidade. A obra consiste em uma instalação com ambiente deste tipo de salão, com cadeiras, espelhos e acessórios, além de fotografias e um curta-metragem relacionado ao tema. No dia da abertura da exposição, durante três horas, acontece uma ativação deste espaço, e profissionais estarão disponíveis para cortar os cabelos de quem se interessar.

A Mostra Diálogos Ausentes é um convite a conhecer a riqueza da produção de artistas negros contemporâneos no Brasil, ao trazer manifestações das formas de fazer, conceitos e novas visualidades que constituem a produção artística da cultura negra atual. Uma arte que manifesta e transforma diálogos ausentes em diálogos presentes. O evento reforça, ainda, a parceria de longa data entre o Observatório de Favelas e o Itaú Cultural, que, recentemente, apoiou reformas no Galpão Bela Maré: climatização e adequação do espaço a normas de segurança. Estimular essas iniciativas é fruto da convicção do instituto de que a cultura é uma das bases para construir a sociedade.

Sobre a série Diálogos Ausentes

Desde abril do ano passado, o Itaú Cultural realiza a série Diálogos Ausentes com o intuito de analisar entre o público, artistas e especialistas a representação dos negros em uma área de expressão diferente, a cada três meses. Em 2016, o primeiro bloco de três encontros discutiu as artes visuais; na sequência, os debates foram sobre as artes cênicas – com foco no teatro – e, por fim, o audiovisual, sobre o olhar do cinema negro. Neste ano, os debates foram sobre o negro na dança, na literatura e na música, encerrando o ciclo de 2017.

Serviço

Mostra Diálogos Ausentes

Abertura 30 de setembro (sábado), às 16h

Visitação: 1 de outubro (domingo) a 10 de dezembro (domingo)

Terça-feira a domingo, das 10h às 19h

Entrada gratuita

Classificação indicativa: 14 anos

Local: Galpão Bela Maré

Rua Bittencourt Sampaio, 169, Maré

Entre as passarelas 9 e 10 da Avenida Brasil

Rio de Janeiro - RJ