Beleza em todas as suas formas: um projeto inspirador!


A vida de pessoas com síndrome de down nunca foi fácil. Hoje, em muitas questões, como a escolar é um problema quase superado. O mercado de trabalho, porém, ainda impõe barreiras. Para ajudar a melhorar o quadro, o Grupo Alfaparf e o Instituto Meta Social criaram o projeto “Beleza em Todas as Suas Formas”



Ele consiste em um curso profissionalizante gratuito para jovens com down que, em três anos, formou 76 alunos, 36 dos quais conseguiram emprego em salões de beleza de grandes cidades ganhando salário, amigos e, principalmente, plena cidadania. Além de Rio de Janeiro e São Paulo, a iniciativa já formou auxiliares de cabeleireiro em Palmas (TO) e Lages (SC). A ideia deu certo e foi replicada no exterior - Guatemala e Itália já formaram turmas.



Um dos jovens formados é Andressa Martins, 21, há um ano assistente do salão Square & Company Hair, de São Paulo. “Depois da escola, sempre quis trabalhar e o curso me deu essa chance”, diz “Agora tenho salário e carreira”, comemora. Como os demais jovens que fizeram o curso, Andressa assistiu a aulas semanais durante seis meses. As disciplinas são ministradas por cabeleireiros, além de psicólogos, psicopedagogos e especialistas em psicomotricidade, para os movimentos mais delicados. 



Quando formados, os alunos são contratados como um funcionário qualquer - carga horária estipulada, carteira assinada etc. A recepção é calorosa. “Quando a Andressa chegou, primeiro ficamos temerosos, mas os medos logo foram embora”, lembra a cabeleireira Josi Vargas, do salão Square & Company. “Ela escolheu trabalhar comigo e reforcei o treinamento, escrevendo apostila e treinando com bonecas. Além de fácil de lidar, ela é perfeccionista. As clientes adoram”. E gostam mesmo. “Ela é muito detalhista, faz os movimentos com bastante calma e sempre perguntando se está tudo bem”, diz a vendedora Thaís Silva, uma das clientes de Josi atendida por Andressa.





Andressa e Josi, colega de trabalho no salão



A qualidade do trabalho de quem tem síndrome de down também chamou a atenção de Cláudio Miguel, dono do salão que leva seu nome, no Rio de Janeiro. Bianca Matos, de 25 anos, trabalha a seu lado três vezes por semana há um ano e meio, sem deixar falhas. 



No começo, ela ficava confusa com as atividades e demorou um pouco para entender que aquele é um ambiente profissional, mas isso acontece com qualquer jovem em seu primeiro emprego”, diz Cláudio. “Agora, quando ela trabalha, faz tudo muito bem. Isso para não falar da alegria com que chega. Está sempre contente. Às vezes até pedimos para ela ‘baixar a bola”, brinca.





Cláudio e Bianca, uma das alunas do projeto



A alegria se deve à realização de um sonho. Como Andressa, Bianca sempre quis trabalhar, mas encontrava dificuldades para aprender uma profissão e obter uma vaga no mercado. O curso lhe permitiu dar esse passo. “Gostava muito de ir a salão, de usar maquiagem. Aqui lavo e seco o cabelo das clientes, ajudo o Cláudio e ainda tenho tempo de ir à escola”, comemora Bianca.


Síndrome de Down no mercado de trabalho


Estima-se que haja cerca de 270 mil pessoas no Brasil com síndrome de down. A condição é genética - há três cromossomos 21, em vez de dois - e resulta em dificuldades de aprendizado. Isto, porém, pode ser minimizado com estímulos. A inclusão de pessoas com síndrome de down no mercado de trabalho é importante para elas por abrir um círculo social fora da família, desenvolver habilidades e ganhar autonomia. A Lei 8.213/91 obriga empresas com mais de 100 funcionários a ter pelo menos 2% de seu quadro formado por funcionários com essa condição. Não há números oficiais relativos a quantas pessoas com down trabalham no país.



Sabe-se, no entanto, que a contratação de pessoas com deficiência intelectual não se dá somente para cumprir a legislação. Ela traz benefícios para a companhia, de acordo com a consultoria McKinsey. 



“Pessoas com síndrome de Down tendem a apresentar características que promovem reações positivas no ambiente de trabalho, as quais podem contribuir para a melhoria na saúde organizacional”, diz a empresa em relatório. Um exemplo: 83% dos entrevistados pela consultoria para a redação do documento acreditam que a presença de uma pessoa com síndrome de Down faz com que o líder direto se torne mais apto a resolver e administrar conflitos, contribuindo de forma positiva para o desenvolvimento das pessoas. Quase o mesmo percentual acredita que o clima do espaço de trabalho melhorou após a contratação de pessoas com a condição.


Ainda sobe este assunto, ouça este episódio do V2Vcast: https://anchor.fm/v2v/episodes/Sustentabilidade-como-cultura-para-um-futuro-mais-inclusivo-elckgl